quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sociologia midiática

[a sociedade é refém da guerra civil carioca, assista: aqui]


A mídia ainda não se conscientizou da sua função social. Seu papel é dos mais relevantes na atual sociedade contemporânea porque seu alcance é absurdamente amplo. As instituições modernas sabem da força social da mídia, da difusão de uma informação em cadeia nacional em poucos segundos. Por isso é que esse é um dos poucos entes que provoca temor em qualquer organização que esteja à frente do sistema.

Utopicamente, o papel dos mestres da comunicação deve ser o de denúncia, sobretudo no que tange às questões públicas. Violência desmedida, zona nos órgãos políticos, utilização do patrimônio público de forma indevida, conscientização dos indivíduos sobre seus direitos e sobre pontos diversos. Nada disso é abordado de forma suficiente nos veículos de informação. Um programa que chega perto desse ideal, por exemplo, é o CQC, que faz acusações sérias, mesmo que de forma jocosa.

A despeito desse poder magnânimo, parece que a mídia opta por favorecer o “lado do mal”, da alienação. Não só por veicular notícias depressivas o tempo todo, criando desesperança e medo na população. Vai além.

Atenhamo-nos ao quadro da violência em especial. A mídia não ensina dessa forma, mas muitos bandidos caem nesse caminho [cair é diferente de escolher] pela falta de condições básicas de vida e, por vezes, pela revolta incessante que vai sendo gerada neles diante de um cenário tão desigual, tão deficiente. Não por preguiça, por serem perdedores, burros, inaptidão para a vida em comunidade, como imagina o senso comum.

Apesar disso, eles são considerados a escória da sociedade, o grande mal a ser combatido. A sociedade, desiludida, acredita nessa idéia e acaba por legitimar uma ação VIOLENTA do Estado sobre esses indivíduos. Qualquer discussão jus-filosófica que se faça com algum grau de conhecimento chegará a conclusões similares, no sentido de que o Estado não detém legitimidade para se utilizar de violência desregrada da forma que faz contra nenhum de seus representados.

Os jornalistas, sociologicamente alienados, compram a idéia. Estigmatizam os infratores de malvados, e a polícia de heróis. Deflagram a POLÍTICA DO TERROR sobre a população, que adere a esse discurso sem entender que ele é construído a partir de somente uma perspectiva pré-moldada. Destarte, passam a ignorar os crimes cometidos por aquele que deveria oferecer proteção: o Governo.

Basta ver o noticiário. Logo se percebe como a visão acima descrita é passada de forma massificante. Ó céus! Os jornalistas não viram o filme Tropa de Elite? Será que eles não compreendem que os órgãos estatais é que cometem o primeiro crime, porque não dão assistência à população carente, proporcionando a formação de um Estado alternativo dentro dos bolsões de miséria?

Observemos a situação do Rio de Janeiro com relação à implantação das UPP no Morro do Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Tanques de guerra circulando pelas ruas da cidade maravilhosa. Um verdadeiro caos social. A mídia, por seu turno, aplaudindo a ação policial, legitimando perante a sociedade algo desproporcional. Nada justifica uso de tanques de guerra usados no Iraque ou metralhadoras com alcance de 1,5km.

Não sei qual é a REAL intenção dos governantes ao permitir a ocupação dos morros. Segurança Pública, certamente, não é. Aliás, a Polícia não desempenha função de segurança, mas de repressão simbólica. Mas isso é discussão para outro momento.

O fato é que vinte pessoas já morreram. Dentre os inocentes, uma menina de 14 anos. E a ação vai se estendendo. Ganhando força, fazendo mortos. Atingindo PESSOAS vítimas de um sistema desigual, subjugadas a uma ação extremamente inexpressiva do Estado em oferecer qualquer condição essencial para uma qualidade de vida minimamente salutar, seja em termos materiais, seja em aspectos psicológicos.

Pra quem duvida que o Estado é o grande inimigo da sociedade na contemporaneidade, sugiro uma reflexão sobre onde estão as escolas e os hospitais que deveriam ser construídos com o dinheiro dos impostos. Isso pra não falar em estradas, rede de esgoto, eletrificação, ...!

ACORDAI-VOS, jornalistas! Para uma realidade por detrás dessa que estão expondo nos telejornais. Um futuro mais justo depende de vocês.

9 comentários:

  1. pois é...
    não é defendendo... mas a polícia "pacificadora" tão tirando o sustento dos traficantes no rio...
    quero saber o q eles vão fazer com essa população que vivia do tráfico de drogas...
    pq ngm fala q eles caem nesse caminho por não conseguir outra fonte de renda...
    a mídia só quer falar q é bandido q tem q morrer...
    como se o homem que caisse no caminho merecesse morrer por tentar viver...
    dificil..

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  2. ''A mídia ainda não se conscientizou da sua função social.'' = Possivel ou nao, necessaria!!!

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  3. Só discordando do Luciano, pois o mesmo generalizou que os bandidos "caem nesse caminho por não conseguir outra fonte de renda"....

    Sem muito delongas, isso é uma falácia socratiana (usando pessoa/ciência que de certo o autor conhece)!

    Existem, sim, e talvez sejam maioria, criminosos que o são por falta de opção, mas não podemos fechar os olhos e fingir que não existe aquele sujeito que tende ao crime não por refúgio, como meio de subsistência, pois muitos são os que entram nesse caminho por mera liberalidade.

    Fulano trabalha 30 dias pra ganhar R$540,00 reais (próximo salário mínimo - segundo nosso excelentíssimo governo PT), mas é convidado por Ciclano para fazer um trabalhinho que lhe renderá R$5.400,00, por baixo, num único dia.... muitos "fulanos" irão optar pela alternativa arriscada, porém rentável.

    Isso é ralidade: segundo o Prof. Dr. Marcelo Lima, hoje, exclusivo da UFES...

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  4. Com o comentário acima, acabei por discordar, também, do nosso autor, quando o mesmo disse:

    Atenhamo-nos ao quadro da violência em especial. A mídia não ensina dessa forma, mas muitos bandidos caem nesse caminho [cair é diferente de escolher] pela falta de condições básicas de vida e, por vezes, pela revolta incessante que vai sendo gerada neles diante de um cenário tão desigual, tão deficiente. Não por preguiça, por serem perdedores, burros, inaptidão para a vida em comunidade, como imagina o senso comum.

    Ademais, atrevo-me a destacar, novamente, como postura de contrariedade, o seguinte posicionamento:

    Observemos a situação do Rio de Janeiro com relação à implantação das UPP no Morro do Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Tanques de guerra circulando pelas ruas da cidade maravilhosa. Um verdadeiro caos social. A mídia, por seu turno, aplaudindo a ação policial, legitimando perante a sociedade algo desproporcional. Nada justifica uso de tanques de guerra usados no Iraque ou metralhadoras com alcance de 1,5km.

    Concordo que não deve ser desregrada a força implantada pelo Estado (e nesse caso do Rio de Janeiro, está muito bem regrada, diga-se de passagem), caso contrário, o nome seria milícia, mas dizer que a mídia esta fazendo trabalho de "lado do mal", não acredito, pois acho que pelo menos dessa vez ela está transparecendo a verdade: o anseio social pela paz....basta ver fotos (já que as informações são maléficas) das comunidades.

    Acho que o pensamento não pode ser equivocado como o é o da maioria que diz que "eu sou igual a você por causa do Princípio da Isonomia"; dizer que o criminoso é fruto de uma sociedade desigual é fácil, mas como diria Arnaldo Jabor:

    Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico para ganhar uma grana legal.

    Portanto, volto a frisar: existe o "criminoso FRUTO" da sociedade (e concordo com o autor e com o Luciano) e existe o "criminoso OPTANTE" (e isso é o que preguei nesses dois comentários).

    Precisamos lembrar o verdadeiro sentido da Isonomia Constitucional: pessoas são diferentes e assim devem ser tratados, na medida de suas diferenças.

    Analisar a criminalidade, sempre sob a óptica do "coitado não teve oportunidade" [(e por isso roubou e na fuga matou (latrocínio)] não é a saída social para a regularização da paz.

    Se falar mais, é mesmisse então, paro por aqui.

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  5. Com o comentário acima, acabei por discordar, também, do nosso autor, quando o mesmo diz:

    Atenhamo-nos ao quadro da violência em especial. A mídia não ensina dessa forma, mas muitos bandidos caem nesse caminho [cair é diferente de escolher] pela falta de condições básicas de vida e, por vezes, pela revolta incessante que vai sendo gerada neles diante de um cenário tão desigual, tão deficiente.
    Não por preguiça, por serem perdedores, burros, inaptidão para a vida em comunidade, como imagina o senso comum.

    Ademais, atrevo-me a destacar, novamente, como postura de contrariedade, o seguinte posicionamento:

    Observemos a situação do Rio de Janeiro com relação à implantação das UPP no Morro do Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Tanques de guerra circulando pelas ruas da cidade maravilhosa. Um verdadeiro caos social. A mídia, por seu turno, aplaudindo a ação policial, legitimando perante a sociedade algo desproporcional.Nada justifica uso de tanques de guerra usados no Iraque ou metralhadoras com alcance de 1,5km.

    Concordo que não deve ser desregrada a força implantada pelo Estado (e no caso do Rio de Janeiro está muito bem regrada, diga-se de passagem), caso contrário, o nome seria milícia, mas dizer que a mídia esta fazendo trabalho de "lado do mal", não acredito, pois acho que pelo menos dessa vez ela está transparecendo a verdade: o anseio social pela paz.... basta olhar as fotos (já que as informações são maléficas) das comunidades.

    Como diria Arnaldo Jabor:

    Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico para ganhar uma grana legal.

    Portanto, não podemos aplicar, como muitos, de forma equivocada o famoso Princípio da Isonomia... analisar o criminoso sob a óptica do "coitado, assaltou e roubou" [e na fuga matou (latrocínio)], pois a sociedade é desigual, é ironia e, nas palavras da Prof. Virgínia Smith: "pacto de mediucridade".

    Por fim, pois dizer mais é mesmice: na minha visão, existe, sim, o "criminoso FRUTO" da sociedade (e nessa sentido, concordo com o autor e com o Luciano), mas os mencionados não podem deixar de visualizar que existe o "criminoso OPTANTE" (que defende existir nesses dois comentários).

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  6. Com o comentário acima, acabei por discordar, também, do nosso autor, quando o mesmo diz:

    Atenhamo-nos ao quadro da violência em especial. A mídia não ensina dessa forma, mas muitos bandidos caem nesse caminho [cair é diferente de escolher] pela falta de condições básicas de vida e, por vezes, pela revolta incessante que vai sendo gerada neles diante de um cenário tão desigual, tão deficiente.
    Não por preguiça, por serem perdedores, burros, inaptidão para a vida em comunidade, como imagina o senso comum.

    Ademais, atrevo-me a destacar, novamente, como postura de contrariedade, o seguinte posicionamento:

    Observemos a situação do Rio de Janeiro com relação à implantação das UPP no Morro do Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Tanques de guerra circulando pelas ruas da cidade maravilhosa. Um verdadeiro caos social. A mídia, por seu turno, aplaudindo a ação policial, legitimando perante a sociedade algo desproporcional.Nada justifica uso de tanques de guerra usados no Iraque ou metralhadoras com alcance de 1,5km.

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  7. Concordo que não deve ser desregrada a força implantada pelo Estado (e no caso do Rio de Janeiro está muito bem regrada, diga-se de passagem), caso contrário, o nome seria milícia, mas dizer que a mídia esta fazendo trabalho de "lado do mal", não acredito, pois acho que pelo menos dessa vez ela está transparecendo a verdade: o anseio social pela paz.... basta olhar as fotos (já que as informações são maléficas) das comunidades.Como diria Arnaldo Jabor:

    Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico para ganhar uma grana legal.

    Portanto, não podemos aplicar, como muitos, de forma equivocada o famoso Princípio da Isonomia... analisar o criminoso sob a óptica do "coitado, assaltou e roubou" [e na fuga matou (latrocínio)], pois a sociedade é desigual, é ironia e, nas palavras da Prof. Virgínia Smith: "pacto de mediucridade".

    Por fim, pois dizer mais é mesmice: na minha visão, existe, sim, o "criminoso FRUTO" da sociedade (e nessa sentido, concordo com o autor e com o Luciano), mas os mencionados não podem deixar de visualizar que existe o "criminoso OPTANTE" (que defendi existir nesses comentários).

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  8. Bom texto! Não precisamos mais de violência, mas de uma política de direitos.

    Só ela pode romper esse ciclo vicioso do crime e da miséria.

    E outra coisa, toda a polêmica entre o traficante assim o ser por que quis ou por que foi coagido pela miséria, basta fazermos um simples exercício sociológico:

    Qual é o referencial da junventude que vive no meio do tráfico?

    O traficante é o anti-herói, é o cara que, ao seu jeito, superou a miséria; é, portanto, o exemplo a ser seguido. Como toda relação de poder é um relação de energia e informação, o lado "enérgico" da transformação de um garoto em bandido é a coação para que vire criminoso, o que se dá de diversas formas.

    Enfim, acredito que quebrando esse referencial teremos um futuro melhor. E isso só se realiza com uma política de direitos.

    Abaixo uma interessante postagem no Blog Espaço Banal.

    http://espacobanal.blogspot.com/2010/11/violencia-no-rio-industria-do-medo-e.html

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  9. Adorei o texto Arthur. Há muito não vejo mais TV e escolha a matéria que vou ler. Quase uma alienação, infelizmente.

    Foi a forma que encontrei para viver mais livremente deste mal que nos acometeu na duas últimas décadas, eu acho.

    Mas faço a minha parte por onde eu passo. Tenho uma relaçao de amizade com meus alunos.

    Tipo: já que usa, não abusa. Sempre falo isto na saída, principalmente na sexta-feira. Faço questão de me despedir dos meus alunos com frases positivas e humanizadoras.

    Outra dia disse p um aluno querido:
    _ Vc não veio a aula hoje? Está na rua uniformizado (este apareceu AS 22:15 p ver o "movimento" na porta da escola..

    Ele me repondeu:

    _ Não Lana, hj vou proteger minha favelinha. Dei a ele um abraço apertado e disse no ouvido: vá com Deus..

    Este outro lado, não interessa a mídia. Não vende.. Mas nos bairros distantes encontramos pessoas lindas, gênios mesmo. tenho paixão pelo meu ofício enão estou vendida por ele..

    Acredito na minha força de trabalho, logo, eu faço a minha parte, assim como vc vem fazendo a sua ao escrever e se expor.

    Só escreve quem confia nas próprias idéias. E este, é um dos pilares da auto estima segunda Natanael Branden.

    Gosto de ler vc.
    Beijossssssssssss

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