sábado, 27 de outubro de 2012

Vitorinha, Vitorinha....


Eis o que penso sobre a disputa eleitoral para prefeitura...

Antes de tudo, já esclareço: voto em Guarapari, o que me dá, penso, alguma frieza para compreender o cenário de Vitorinha.

Vamos lá. A campanha do Luciano compadece o coração do eleitor. A alusão a uma demanda social recorrente a nível quase que mundial, a ânsia por mudança, funcionou bem! Para completar o caldeirão, uma musiquinha que pega fácil, todo mundo tá cantando. A de Luiz Paulo não fica atrás, belas imagens e um monte de gente humilde vangloriando o candidato pelos tempos em que fora prefeito.

A beleza das propagandas, todavia, esconde as mazelas ideológicas que estão sendo operadas. O marketing é assim, produz fakes e deturpa a boa visão das coisas da política. Não é à toa que tanto as propagandas como os debates travados tangem tão pouco ao assunto “propostas”, destinam-se, no entanto, sobremaneira ao aspecto pessoal dos candidatos. Daí, o circo se arma. As campanhas exuberantes trazem e fazem adeptos das causas de um ou de outro sem ter, de fato, taaanto compromisso com a verdade ou com o bem da população.

Mas a guerra começa mesmo assim. Os lados se situam e os ataques começam, sempre tão absolutos na verdade que pregam. Baseiam-se, sim, numa falsa sensação de dicotomia que, se analisada a fundo, revela uma disputa de pares e, por isso mesmo, talvez nem possa ser chamada assim, “disputa”. É isso mesmo. Criticar fervorosamente algum de nossos pretendentes à prefeitura significa, invariavelmente, falar diretamente contra o seu defendido. A acusação apontada para qualquer deles parte de uma visão pouco reflexiva, que não quer enxergar que a distância de projeto de gestão que difere os candidatos é tão ínfima que pode se dizer irrelevante, insignificante.

Luciano e Luiz Paulo agem com os mesmos propósitos e mediante condutas bem parecidas. Arquitetaram para si campanhas impérios, despendendo, para esse fim, altíssimos gastos. Quem os financia? Aqueles mesmos que reivindicarão, logo mais, que seus interesses sejam atendidos. É, os empresários investem pesado na candidatura de um prefeito, e alguém tem que pagar a conta depois né...

Vitória ainda não conheceu uma proposta efetiva de mudança. Até o PT, resistência de outrora, sucumbiu ao poder do empresariado, consagrando aquilo que fora uma das maiores decepções políticas da história do Brasil.

Não nos iludamos: ambos os lados tem financiadores espúrios; ambos os lados teceram relações políticas comprometedoras [a exemplo, Magno Malta e Paulo Hartung, um de cada lado], ambos os candidatos já agiram de maneira antiética nessa eleição, notadamente através de agressões pessoais e, quando tomarem posse do cargo, vão repetir o desrespeito com a Coisa Pública.

Nesse jogo, interessa menos atender à população que à própria carreira. Os que se debruçam sobre o panorama com alguma visão crítica logo se dão conta que nem Luciano nem Luiz Paulo pretendem romper com essa lógica. Vitória será, mais 4 anos, obra de condução do grande empresariado, não importa quem vença. “Farinha do mesmo saco”, seria a expressão mais pertinente.

A verdadeira mudança só vai acontecer quando nós, verdadeiros protagonistas da democracia, pararmos de apoiar cegamente esses que se dizem aptos aos cargos públicos, mas que, realmente, nutrem suas ações com condutas pouco altruístas, nada preocupadas com o bem social. Mais egoístas, contudo, ludibriando a todos com essa fotografia bonita que aparece no horário eleitoral e com as veeelhas promessas que não vão cumprir.

Nenhum dos nossos candidatos merece nosso apoio incondicional. Aquele que vier a tomar posse deve o fazer sem a tranqüilidade e conforto que geram a larga aceitação dos eleitores, mas que seja, o eleito, motivado pela represália que a população pode desembainhar se desagradada ou preterida. Esse é a atuação que, como cidadãos engajados, devemos desempenhar. Desconfiança e exigência! Nada menor que isso, na nossa atual conjuntura, é socialmente construtivo ou politicamente desejado. 

Portanto, amanhã, não vote consciente. Conscientize-se, apenas, para além da perspectiva que a sua opção de voto fornece.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Parágrafo da minha vida – ou carta aos amigos do Direito


Platão falando a Glauco a respeito do homem que vivia preso à Caverna [aquela do Mito] e, após enxergar o Sol que havia fora dela, tem o retorno forçado ao ambiente obscuro de outrora...

“- Mas então? Pensas ser espantoso que um homem, que passa das contemplações divinas às misérias humanas, tenha falta de graça e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e insuficientemente acostumado às trevas circundantes, se vê forçado a entrar em disputa, diante dos tribunais ou alhures, acerca das sombras de justiça ou das imagens que projetam essas sombras, no empenho de combater as interpretações que delas fornecem os que nunca viram a justiça em si mesma?” (A República de Platão, p. 267)

Decerto que, aos olhos do filósofo, o Sol simboliza o destino final daqueles que buscam conhecimento e, por conseguinte, representa, em tempo, todo o bem e a justiça, e todas as virtudes que existem de mais elevadas.

Por esse raciocínio, então, o que verdadeiramente clarifica o significado de termos que, ao primeiro olhar, parecem tão vagos [como bondade e justiça], é a força do conhecimento, porquanto é a única apta a elevar o espírito do homem, conduzindo-lhe a visão para além daquilo que é APARENTE, de sorte que passe a enxergar, por fim, o que é REAL.

Não é de se espantar, portanto, que quando algum jurista se desloca de sua zona de conforto dogmática almejando passos mais largos em busca da verdadeira justiça e, após esse movimento, ao ser reinserido em searas menos esclarecidas, o que ocorrerá, sem dúvidas, no momento em que ele venha a se confrontar com a justiça dos tribunais – em que a arte da retórica é tão mais contemplada, mas embaça a própria virtude pura da justiça -, ele se frustre!
O jurista elucidado, filósofo, sabe que os tribunais resistem à luz, preferem as sombras refletidas nas paredes da Caverna. Nos tribunais, o que é aparente é bastante mais relevante do que o real. E é precisamente por isso que o que ali se discute é mera projeção da realidade e, por isso mesmo, do que é justo, jamais corresponde, todavia, à efetiva justiça em sua semântica mais plena.

Não se trata de arrogância, uma presunção de ser portador da maior das verdades e, por conta disso, insurgir-se contra as práticas institucionalizadas em toda a extensão do corpo jurídico. É que esse filósofo já transcendeu ao plano metafísico e lá viu tanta coisa correta e reluzente que já não pode se contentar com qualquer política que simbolize a escuridão, que promova discursos alienantes, que esteja preocupada com a camuflagem das contradições reais, cuja finalidade sequer apresenta algum compromisso com a elucidação da verdade, mas apenas com a adulação para convencimento do público em defesa de causas que são, no mais das vezes, injustas.

Justificar essa ordem significa, invariavelmente, cometer injustiças. Alimentá-la é um atentado ao saber. Os protagonistas dessa lógica são esses que permanecem estagnados, acorrentados diante das paredes, se deliciando com sombras e afugentados pela força da luz! Temem o desconhecido. Também, pudera, para sair da Caverna e perceber quanto sua percepção da realidade é limitada é necessária muita coragem...

Os que permanecem nessa condição julgam como ridículo aquele que vem de fora da Caverna, com informações tão diferentes, tão inéditas, jamais cogitadas em um cenário atravessado pelas trevas. Riem dele, pretendem conformá-lo novamente à inércia, à resignação. São os homens de terno da Matrix, os Darth Vaders, defensores do sistema. Para nossa fortuna, contudo, essa conformação já não é possível. Agora o herói conhece o Rei Sol e todas as belezas que dele irradiam, tão mais vivas que as sombras que na parede se perfazem, insistindo incansavelmente em ser chamadas de realidade, figurando como algo que, de fato, nunca foram e tampouco serão.

Quebre os grilhões! Liberte-se da fôrma dócil que a escuridão deseja. Pretenda o inusitado, o desconhecido! O mundo precisa menos do rigor do dogma que da ousadia da poesia... Atue, sempre, como indica o mantra do grande mestre Bob Marley, destemidamente: “Bright up the darkness!”.

Ilumine a escuridão, LUTE!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Marcha fúnebre pra dialética!

É o que aparenta: a dialética está morta! E o pior, não decorreu de causa natural, foi assassinada por um projeto iniciado ainda na Idade Moderna.

As conseqüências foram – e têm sido – nefastas.

A arma utilizada para que o crime se perfizesse foi o processo de racionalização, e de racionalidade. É engraçado notar como a razão ganhou ênfase nos tempos iluministas, e como o ser humano foi se afastando, mais e mais, da semântica do mito, do transcendental, do mistério da vida, de tudo aquilo que é inexplicável.
Vejam o índio como interage com sua espiritualidade de forma muito mais plena. Ao debruçar-se sobre o rio para tomar seus goles de água, o indígena bebe da própria fonte divina que o sustenta, um encontro direto com Tupã, um momento tanto profundo quanto sagrado.

Ora, quem aí, nesse mundo globalizado maluco, ainda observa a semântica do sagrado no cotidiano? A religião pós-moderna ocidental, muitas vezes, serve tão mais para instituir práticas racionais do que para instigar o homem a encontrar-se com sua própria divindade. Em vez de enriquecer o fiel com a riqueza da infinidade, finda por reduzi-lo à suposta compreensão do divino, que, aliás, é impossível de ser compreendido.

Talvez, no plano prático, a maior implicação negativa desse processo tenha sido o isolamento das ciências do saber. O Direito não conversa mais com a sociologia. A física também pouco se interessa pela filosofia. A medicina sequer lembra que existem outros conhecimentos! Mal sabe ela que, se namorasse a psicologia, os filhos sairiam belos...

Sem a força da dialética, do diálogo produtivo, o que vem ocorrendo é a formação de estruturas tanto estanques quanto alienantes, que irão circunscrever uma população inábil na prática de um exercício tão vital: questionar.

Analisemos as instituições em que vivemos. Nesse contexto, impossível ignorar o legado de Foucault, que traz a denominação de “Instituições Totais”, ou “Instituições de Sequestro”. Explico a epígrafe: as instituições teriam, segundo essa perspectiva, o condão de seqüestrar a subjetividade do indivíduo, maquinificá-lo – com o perdão do neologismo - por meio de sua normalização, de sua padronização.

Esse conceito, na verdade, é de facílima constatação, a não ser para aqueles que já estão tão instrumentalizados pelos métodos dessas instituições, que não conseguem enxergar muito além do que lhes é aparente. O exército, a Igreja, as prisões e manicômios, as escolas. Nesses ambientes, o indivíduo é forçado, cotidianamente, pelo viés inquisitivo do hábito, numa cruel demonstração do poder da psicologia comportamental, a se abster de seus instintos e vontades íntimas para agir apenas e tão somente como ser grupal.

O cidadão fica tão bitolado na coesão da instituição em que está inserido que para de falar por si, absorve o discurso da estrutura que o envolve, e passa a agir emparelhado com os demais indivíduos que se encontram sob a égide institucional. Todos estão sofrendo a mesma mecanização. Sua subjetividade vai sendo, gradativamente, seqüestrada, para ser substituída por valores que aqueles que estão no comando decidem.

A produção de dogmas dentro desses locais opera em apenas um sentido: rechaçar a reflexão, a criatividade, o plural e, por conseguinte, a generosidade, solidariedade, o humanismo. A reprodução, contudo, ganha ênfase. Seres humanos passam, dessa feita, a agir como robotizados, processando as informações fornecidas e repassando-as como computadores, sem assimilação, sem contestação, sem agregação e elaboração das idéias. São preteridos do que possuem de mais sagrado: a sua humanidade, sua auto-intimidade.

Não é preciso nem comentar que perpassam pelas instituições sociais uma gama de relações de poder extremamente arbitrárias, arquitetantes de um cenário de injustiça, desigualdade e violência. Pra quem não crê, basta ver o filme [http://www.youtube.com/watch?v=250SbsLrr74], baseado num experimento real feito na Universidade de Stanford, em 1971, para provar que o ambiente das instituições totais tende a corromper-se em um contexto de violência desregrada.

A dialética, todavia, amigos, morre em virtude de uma finalidade.

Para munir a arma do crime, trouxeram à baila o tal do discurso! Esse foi, ao longo do tempo, potencializando-se, transformando-se e mudando sua feição, até incorporar outros termos, tornando-se o discurso da Verdade, ou melhor, o discurso científico.

O discurso científico se mascara de neutro, toma posse da Verdade e atravessa as relações sociais produzindo realidades menos coerentes que funcionais para a lógica da racionalização. Geralmente, ele é amplamente utilizado pela mídia, pra moldar o pensamento da população. Mas há uma coisa que ninguém diz: nenhum discurso é neutro! Vamos tentar provar com um dos ramos menos problematizados do mundo, a ciência médica.

Pasmem! Até ela está pautada em interesses econômicos. Duvidam? Vejam isso [http://www.youtube.com/watch?v=H4bhwgXsbzA], e pensem comigo... Sou dono da Bayer e vou patrocinar um congresso para discutir a cura pra dor crônica nas juntas externas [?!]. Reflitam: a solução a ser dada para esse caso clínico vai ser diferente daquela que, no final, vai indicar que a cura está no remédio produzido pela minha empresa? Espero que não estejamos, a essa altura, nesse grau de ingenuidade. Não existe neutralidade nem para o estudo de curas, a venda de remédios e tratamentos também se encontra eivada de interesses econômicos das grandes farmacêuticas do mundo.

O problema é que as pessoas acreditam no discurso científico, sequer concebem outra hipótese. Esquecem que, na verdade, o mundo é feito de mil possibilidades, e que há coisas entre o céu e a terra que os cientistas não dão conta de explicar. O incerto é inerente ao humano. É, no entanto, e, provavelmente, o medo da incerteza que nos leva a se apegar tanto em qualquer discursinho politicamente produzido, não raramente confeccionado a partir de intenções espúrias, sejam econômicas ou políticas.

A segurança jurídica, a ressocialização dos presidiários, a cura dos “loucos” através das práticas de dor, a libertação divina por meio das indulgências, até o método de provas no ensino da escola! Todas são sustentadas por falácias e estão carregadas de valor ideológico segregacionista.

Falta, contudo, uma incógnita a ser desvendada nessa equação. Quem diabos matou a dialética?

Ora, o poder dominante! E quem é o poder dominante? Se o sistema é do capital, só podem ser os donos do capital, os mesmos engenheiros dessa lógica piramidal que vivemos, em que os ideais irradiam do topo até a base, escondendo e camuflando informações importantes enquanto trajetam seu caminho descendente. Tudo por uma razão: dominação.

Mega empresários, donos de banco, políticos, diretores dos centros de ensino, donos dos canais midiáticos, todos coligados. De fato, as elites, dominadoras dos centros de informação, não querem seu poder contestado. Quem começou a falar disso a nível global foi um tal de Karl Marx. Por isso, mais um discurso vem à tona para coagir a sociedade – que é mal informada e acrítica - a pensar de uma determinada forma. É o que eu chamo, nos meus devaneios, de Princípio da Coação Social.
Vou destrinchar melhor.

Digamos que uma grande empresa queira implantar um chip na sua pele que guarde todas informações de identidade e que possa te rastrear instantaneamente, mas sua implantação será muito lucrativa. A priori, um grande ferimento a uma série de princípios constitucionais, liberdade e privacidade são os primeiros que vem à mente. É evidente, ninguém vai querer apoiar uma ideia que cerceia garantias asseguradas em nossa Carta Magna. Por isso é que o empresário vai pedir a seus parceiros da mídia que divulguem, massificamente, notícias de desgraça e, mormente, de violência. Se possível, envolvendo alguma classe miserável no estigma de “o mal a ser combatido”, de inimigo da boa sociedade, sempre no intuito de gerar medo nos cidadãos. Criam, dessa maneira, um clima de caos que dará azo à implementação da política do terror.

Pronto. A população está prontinha para ser convencida de que deve abrir mão de seus direitos para sua própria “segurança”. Em nome de uma falsa sensação de proteção, abdica daquilo que tão arduamente conquistou no transcorrer da história, os direitos humanos, uma vez que permite que os direitos desse suposto “inimigo” sejam desconsiderados. Mal sabem que, ao incorrer nessa dinâmica, enfraquecem indiretamente seus próprios direitos.

Então vamos finalizar.

Sabe o que é pior em tudo isso? É que em meio a tanta desinformação e manipulação do imaginário social para inserção das verdades e vontades da elite, aqueles que se insurgem contra essa suposta ordem, que de ordenada não tem um pingo, são logo classificados como loucos, maconheiros e até românticos! Geralmente, esse grupo é formado por pessoas ligadas à universidade, sobretudo nos cursos menos elitizados e futilizados.

Para esses? As agruras da violência policial e a famigeração pela mídia - alguma ligação com os últimos acontecimentos na USP? -.

Sintetizando: o processo de racionalização gera desumanização, injustiça, violência e alienação, ao passo em que excomunga a criatividade, a generosidade, a espiritualidade, o conhecimento.

A criatividade, meus caros, é proporcionada pelo exercício dialético e fortalece a capacidade critica do sujeito, que, por isso, irá contestar certas práticas com as quais, por ventura, discorde. E eu vos garanto, nada disso é interessante para quem está nos altos cargos de comando social.

Tá na hora de acordar, galera, pro que tá lá detrás das cortinas. Aceitar menos e perguntar mais. Vou repetir: D I A L É T I C A! Precisamos resgatá-la!

domingo, 28 de agosto de 2011

Infância Perdida... !

A lógica do consumismo impregnada no mundo ocidental é bem danosa, porque cria necessidades desnecessárias, que se iniciam no plano material e transcendem aos demais aspectos da vida. Quando um objetivo material é alcançado, ele já não mais satisfaz, e o consumidor passa a buscar outro produto para acalmar sua ânsia de possuir sempre aquilo que não tem, mesmo que ele já tenha quase tudo. A batalha para se ter sempre mais é constante, e é daí que vão surgindo as concepções individualistas e egoístas que, infelizmente, prevalecem em nossos tempos. Na procura da matéria, as pessoas se esquecem de valores humanistas básicos, não raramente, passando por cima de tudo e de todos para alcançar sua meta.

A maior vilã dessa estória toda é a propaganda, porquanto potencializa a vontade de consumir através de instrumentos de extrema eficácia em termos de influenciação.

Pior ainda é verificar que todo esse projeto recai brutalmente sobre as crianças. É indubitável: os pequeninos são mais vulneráveis às campanhas publicitárias. De acordo com a Associação Dietética Norte Americana Borzekowiski Robison, são necessários apenas 30 segundos para uma marca influenciar uma criança.

Outro dado importante foi confeccionado pelo Centro de Pesquisa Intersciente, cuja pesquisa esclarece que 80% da influência de compra de uma casa advêm das crianças. Os marqueteiros sabem disso, e não poupam esforços para atingir resultados. No intuito de aumentar a arrecadação de seus clientes, direcionam a publicidade para o público infantil sem maiores pudores.

Em posse dessas considerações, podemos observar também que há um desejo dos grandes empresários de que as crianças tornem-se consumidoras diretas desde cedo. Daí a utilização de alguns mecanismos que forçam um amadurecimento precoce dos menores. Quer um exemplo? http://www.youtube.com/watch?v=A0BJ5_ckhHQ&feature=related

Comerciais dessa natureza não têm nada de bonitinho. A intenção é meticulosamente planejada. Funciona assim: o amadurecimento pretendido pelos publicitários vai se pautar, basicamente, na inserção de valores fúteis nos meninos e meninas. Primeiro, retiram-lhes a vontade de brincar criando um mundo sedutor nos aparelhos televisivos, fazendo com que fiquem cada vez mais bitoladas nas atividades que menos lhes acrescentam pessoalmente, preferencialmente as que ceifam a relação das crianças com seus pares, e com o próprio meio ambiente. Não é por acaso que as atividades infantis são cada vez mais individualistas: ver TV, jogar videogame, tampar os ouvidos com fones para ouvir o tocador de mp3, brincar no computador. Quanto mais reclusas elas ficarem, melhor.

A criança passa a assistir mais e a viver menos. Desenvolve com precariedade uma relação de intimidade própria e de auto-conhecimento. Em suma, descobre a si mesma muito pouco. Vai ficando vazia de emoções e de personalidade. Tcha-ram! Embrião pronto para os marqueteiros. Vazias que estão, serão preenchidas com a vontade de comprar. São bombardeadas pelas propagandas de valores fúteis, e vão se tornando mais suscetíveis à opinião alheia e à indução publicitária. É estruturado pelos canais midiáticos – mas não só por eles - um círculo fechado, do qual não se pode participar se não se possuir determinados produtos mostrados nos comerciais. Quanto mais cara a mercadoria adquirida, mais sensação de pertença ao “grupo” se terá.

Dessa feita, as meninas passam a querer se maquiar mais cedo, usar bolsas da moda, ficar horas no salão, pintar a unha com o esmalte novo da Susie! Os meninos não ficam pra trás, chuteiras da marca X – que geralmente são as caras -, sandália do Senninha, e por aí vai. É claro que isso também vai interferir na formação sexual dos pequeninos, que pode, por isso, se dar mais cedo.

Vejamos mais alguns indícios. Há dez anos os desenhos favoritos da galera eram Cavaleiros do Zodíaco, Dragonball Z, Pokemon, desenhos que, querendo ou não, disseminavam ideais de perseverança, amizade, cumplicidade. Ao notar meus priminhos e seus amigos, vejo que uma das febres de hoje é o Ben 10, um menino arrogante que maltrata a irmã. Outro bem famoso é o cartoon “Três Espiãs demais”, protagonizado por três amigas que, enquanto salvam o mundo, se divertem fofocando sobre os gatinhos da faculdade e falando das compras que fizeram no shopping. Ora, os pequeninos vão reproduzir o que vêem em sua volta, isso inclui os heróis dos desenhos, por quem as crianças nutrem verdadeira admiração e também por quem são acompanhadas cotidianamente.

É muito importante que nos perguntemos quais valores queremos passar para a criançada, porque somos nós que permitimos tudo isso. Se desejamos criar uma sociedade menos fútil e, portanto, mais sensível aos problemas do mundo, é preciso que prestemos mais atenção nas nossas crianças.

Para quem quer ir mais a fundo na toca do coelho, um documentário imprescindível sobre o assunto é o “Criança, a alma do negócio”, cujo trailer encontra-se no link:

http://www.youtube.com/watch?v=UbVtDnOyxHE

domingo, 19 de junho de 2011

Baderna ou Justiça?

Em apertada síntese: quinta de manhã, dia 02/06/2011, revolta no Centro da cidade contra as altas tarifas cobradas pelo serviço de transporte público. Houve obstrução de todas as vias por parte dos manifestantes. A polícia, a mando do vice-governador (o titular do cargo estava em Brasília) chegou e reagiu com bombas e balas de borracha. Pela tarde, os manifestantes reprimidos no Centro se dirigiram à Universidade Federal, onde foram acolhidos pelos estudantes. Houve mais repressão policial militar (que no ES é chamada de BME). De noite, os alunos caminharam por uma das principais avenidas de Vitória, rumo à ponte mais importante da cidade. Lá, foram recebidos com estratégia de guerra, cercados pelo choque e pela cavalaria, aproximadamente 30 estudantes foram presos sem qualquer fundamento legal, isso sem contar os chutões e demais grosserias praticadas sobre quem quer que estivesse transitando na hora.

No dia seguinte, houve uma passeata organizada até a ponte já referida, tendo sido abertas as cancelas do pedágio. Isso depois de o BME ter recuado diante de seis mil pessoas que aderiram ao movimento.

Muita gente, no meio social, tem se colocado contra a manifestação. Em termos gerais, comprou-se a idéia midiática de que a “baderna” feita pelos alunos legitimou a ação violenta da polícia.

Simbolicamente, esse protesto representou um grito dos alunos, sobremaneira dos pertencentes à Universidade Federal, que há muito estava sufocado. Isso porque, desde sempre, e também recentemente, o Estado vem praticando abusos para com os seus cidadãos. Há poucas semanas, por exemplo, foi divulgado um vídeo de os policiais desapropriando pessoas carentes, com uma brutalidade tanto impressionante, quanto desarrazoada, no município de Aracruz. Tudo para que a sede de uma grande empresa fosse instalada.

Na manifestação do dia 2, os ânimos estavam inflamados. O grito eclodiu perante os abusos do Estado. Afinal, os alunos são treinados nos ambientes acadêmicos pra isso, desenvolver pensamento crítico e lutar por seus direitos. Resultado? Repressão! O pior tipo que se possa imaginar. Policiais militares – estaduais - atirando bombas dentro de uma Universidade Federal.

É muito importante ressaltar que não é o Estado que cria a Constituição. É exatamente o oposto, ela é que legitima a existência estatal, e é ela que vai determinar como ele pode proceder. A Constituição Federal foi criada pelo Poder Constituinte, e está ACIMA dos poderes de qualquer governante, inclusive do Presidente. Aliás, uma das funções do Texto Magno é limitar a ação estatal, evitando formas tirânicas de governo.

Destarte, a letra da Carta Constitucional, pro que nos interessa, no que tange os direitos e garantias dos indivíduos, é inquebrantável. O direito à manifestação livre está lá positivado, no art. 5º, inciso XVI. Quando um governador fere a Constituição, ao violar a liberdade de expressão dos alunos, ele desrespeita o próprio poder que o legitima como representante do povo.

Quem está interado sabe que a hora que a polícia mais atacou foi na quinta de noite, quando o movimento já tinha sido “organizado”, não havia mais vias obstruídas, só alguns alunos marchando pela cidade em busca de seus direitos.

A Manifestação Popular é o Ministério Público do povo. Representa uma verdadeira forma de fiscalizar aqueles que lidam com o dinheiro público. Convenhamos, as coisas não estão boas, falta saúde, educação e infra-estrutura básica. Se o governo não tiver medo dos seus governados, então ele não irá agir com eficiência e presteza.

É que é introjetado no corpo social, desde cedo, a idéia de se acostumar com o medíocre. Por isso, também, é que ninguém luta, pois estão acomodados na torcida de que as coisas não piorem tanto. Ora, acreditar que podemos alcançar uma qualidade de vida boa não é utopia. É plenamente praticável obter do poder público uma assistência social de qualidade, e não ter que se conformar com investimentos super-faturados ou desviados. Tantos países, em maior ou menor grau, já gozam dessa suposta utopia, nos provando que é possível. Contudo, a verdade é que, pra chegarmos nesse patamar, será necessário pressionar os governantes. Mesmas ações trazem mesmos resultados. Se ficarmos inertes, nada tende a melhorar.

Se a manifestação contra as passagens altas do transporte público foi ou não bem conduzida, não se pode precisar. O que se sabe é que os alunos estavam exercendo um direito garantido constitucionalmente, e o Estado não pode repreendê-los com violência, através da polícia. A polícia institucionalizada, no Brasil, foi criada por cerca de 1830, sob a epígrafe de Guarda Nacional, e servia para manutenção dos interesses dos famigerados coronéis. Hoje, estes ainda existem, mas com outros nomes. A polícia continua não desenvolvendo uma política de proteção à sociedade, mas de repressão.

Enquanto estivermos presos aos dogmas egoístas impregnados na sociedade desde que houve a bipolarização das classes, exploradores-explorados, dogmas que, por exemplo, nos conduzem à condenação de um movimento social contra um serviço público mal gerido, seremos reféns do Estado, na medida em que remamos em desfavor daquilo que fazemos parte: o tecido social humano.

Aliás, no caso dessa manifestação em especial, vale lembrar que o Direito à educação também é constitucional e, em se tratando de tempos em que se almeja um Estado verdadeiramente democrático, a busca em efetivar as garantias previstas na Carta Maior, como a educação, tem que se dar no campo prático. Tal busca, inexoravelmente, passa pela discussão sobre a prestação do serviço do transporte público, já que ele é tão vital para que os alunos cheguem até suas escolas.


Criticar o movimento do alto do conforto do sofá é muito fácil e cômodo. Se alguém discorda de alguma proposta do manifesto, que junte-se ao movimento e sugira melhorias. O que não pode é, diante dessa safadeza com o dinheiro público alastrada por toda a pátria, querer tirar a legitimidade dos corajosos que estão lá nas ruas, tomando tiro de borracha, lutando por dias melhores.

Finalmente, para aqueles que concebem não estarem os alunos protegidos pela Constituição, entendem que uma manifestação desrespeita a ordem civil e a segurança jurídica, que classificam os manifestantes de baderneiros, eu proponho a seguinte reflexão: Quando a execução da Lei se faz contra a moral, é imoral lutar contra a execução da Lei?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Matrix – ficção e realidade.

[Assista Wake Up Call - saindo da Matrix, o documentário mais completo feito até hoje sobre como o mundo é desenvolvido de acordo com o interesse de poucos, a Matrix na vida real, aqui.]


A trilogia Matrix está entre as mais conhecidas e renomadas obras já feitas por Hollywood. Enquanto alguns pensam tratar-se apenas de um filme com ótimo enredo e cenas de ação muito bem trabalhadas, uma minoria consegue compreender que o filme, em verdade, enfoca debates filosóficos da introdução até o último segundo.

É certamente a obra cinematográfica mais circundada por metáforas simbólicas. A estória contada é tão eficiente em tecer analogias que, para vasta maioria, esse aspecto passa despercebido, invisível mesmo. Imaginam ser apenas um conto louco e criativo, divertido. No entanto, o objetivo do filme é mais ousado, um alerta para aqueles que entendem.

Sinteticamente: a fábula se dá em torno de Neo, um hacker que sempre possuiu dificuldade em aceitar imposições. Sentia-se descabido no mundo, porque não aceitava os padrões que lhe eram oferecidos na sociedade. Em certo ponto, aparecem seus mentores e explicam que o mundo que ele vive é, na verdade, um sonho decorrente de um coma induzido. Na real realidade, ele – e grande parte dos humanos – estão enclausurados em cápsulas, dormindo, fornecendo energia para máquinas, até o momento que se libertam, percebendo que há algo de “errado” com o mundo em que vivem. É quando acordam do sono profundo. É que nesse universo, o factual, há uma guerra entre humanos, e máquinas com inteligência própria. Aqueles que ainda não conseguiram se libertar desse mundo – A Matrix -, encontram-se em estado vegetativo, alimentando a força das máquinas com sua energia biológica. Enquanto isso, sonham. Esse sonho seria, na concepção do filme, a imagem do contexto que vivemos hoje, tal qual ele é.

Dentre milhares de mensagens possíveis a se depreender do filme, uma é sobressalente. De acordo com essa percepção, é fácil entender que as pessoas na verdade não vivem, não agem conforme sua vontade própria, tudo não passa, senão, de mera projeção da realidade. Nada que é, é. Presumem estar vivendo, mas estão apenas dormindo.

A metáfora mais importante do filme se dá com relação a esse ponto. Basta compreender a Matrix como um grande estado de inconsciência. Muitos foram os intelectuais que tentaram e tentam nos avisar que nossas ações são induzidas em grande parcela pela parte inconsciente de nosso cérebro. Imaginamos, todo o tempo, estar tomando condutas de acordo com nossos desejos interiores. Contudo, se pararmos pra analisar, muitas de nossas ações são motivadas por inúmeras razões que não a nossa própria. São fatores que incidem em nossas ações a pressão social, a lógica consumista, o discurso de dominação das instituições, o moralismo, etc.

Enfim, várias são as normas que nos remetem a um padrão intocável. Um modelo de perfeição. Um caminho a ser seguido pelas massas, sob pena de não ser alcançado o tão almejado sucesso profissional e financeiro. Ao menos é assim que nos é transmitido. Repare em como as coisas são recorrentes no nosso mundo. As pessoas se parecem cada vez mais, os pensamentos se repetem, as concepções individualistas, as músicas, as roupas, os programas de TV, as formas de diversão! Tudo só pode ser feito se estiver dentro de um padrão razoável pré-estabelecido pela sociedade. Esse caminho a se trilhar nos é passado como se fosse lógico –e único - quando, com efeito, não faz qualquer sentido. Não no campo da verossimilhança.

Senão vejamos: em termos acadêmicos. A linha é: estudar AQUILO QUE A ESCOLA MANDA – importante frisar essa parte-, ser um aluno obediente, tirar boas notas e, finalmente, chegar ao ápice, o sucesso e reconhecimento!

Ora, se esse caminho lhe parece corretamente indiscutível me explique como inserir Einstein nesse arquétipo? Como tentar classificar a cabeça de Albert? Atribuindo-lhe uma nota? Ele simplesmente não cabe em qualquer padrão. Não é por acaso que, na escola, reprovou duas vezes. Ele não é 0, não é 6 e muito menos dez. Ele é 15! Mas 15 não cabe, 15 é diferente, 15 não pode. “Você só pode ser até dez Albert, por isso, te reprovo, pra que você nunca mais pense que ser um gênio é certo!”, devia pensar seu professor...

Alguém consegue ver algum sentido nisso?

Queriam que Einstein fosse como os outros. No entanto, ele era diferente, e sua diferença consistia em sua genialidade. Sorte a nossa que a incidência das normas de adequação aplicadas ao físico não suflagraram sua genialidade. Infelizmente, nem toda particularidade prospera nesse sistema métrico.

Pois bem, voltando ao nosso objeto. Neo não aceita que modelos pré-moldados recaiam sobre ele sem sua anuência. Não permite que seu inconsciente faça-o agir sem que ele tenha a perfeita ciência do que está fazendo e, mais importante, por qual motivo está fazendo. No filme ele é denominado “O escolhido”. Não vejo possibilidade de um nome mais pertinente. Neo é o escolhido porque ele faz as suas ESCOLHAS, isento de qualquer valor social, moral ou institucional.

Pode vir à tona outra pergunta: porque fazer prevalecer o indivíduo sobre a estrutura? Porque a estrutura no filme, e na nossa realidade, é alienante. E mais, ela é alienante em nome de um propósito, qual seja, dominação. Quanto mais dóceis os corpos, mais fácil tê-los à disposição. Não se iludam, as pessoas que estão no poder tem essa nítida noção, seja nos cargos políticos, nas corporações multinacionais, no corpo docente acadêmico ou no telejornal das 8.

As coisas são feitas para ser exatamente como são. O sistema de qualquer instituição serve apenas para manutenção da mesma, isso em qualquer âmbito.


Diante desse contexto, O poder de escolher é uma dádiva. Um talento! Se tomarmos as mesmas atitudes, os resultados sempre serão os mesmos. Quem acredita na mudança sabe que ela começa com uma interrogação. O sujeito deve se formar a partir dele mesmo e com destino a ele próprio, tudo a partir do questionamento das estruturas pré estabelecidas por sabe se lá quem.

O certo é que não há modelos certos para se produzir um resultado, não existe uma fórmula pronta pra nada. Qualquer um , de qualquer forma, pode atingir qualquer objetivo, qualquer que seja sua vontade, mediante qualquer singularidade que possua, em qualquer momento. Basta, para tanto, dedicação e, muito mais importante, VONTADE. Resultado desses componentes? Escolha.

Despadronize-se. Busque o seu ideal, a sua forma. A que está na TV e no discurso dos mais velhos pode, ou não, te servir.