sábado, 27 de outubro de 2012

Vitorinha, Vitorinha....


Eis o que penso sobre a disputa eleitoral para prefeitura...

Antes de tudo, já esclareço: voto em Guarapari, o que me dá, penso, alguma frieza para compreender o cenário de Vitorinha.

Vamos lá. A campanha do Luciano compadece o coração do eleitor. A alusão a uma demanda social recorrente a nível quase que mundial, a ânsia por mudança, funcionou bem! Para completar o caldeirão, uma musiquinha que pega fácil, todo mundo tá cantando. A de Luiz Paulo não fica atrás, belas imagens e um monte de gente humilde vangloriando o candidato pelos tempos em que fora prefeito.

A beleza das propagandas, todavia, esconde as mazelas ideológicas que estão sendo operadas. O marketing é assim, produz fakes e deturpa a boa visão das coisas da política. Não é à toa que tanto as propagandas como os debates travados tangem tão pouco ao assunto “propostas”, destinam-se, no entanto, sobremaneira ao aspecto pessoal dos candidatos. Daí, o circo se arma. As campanhas exuberantes trazem e fazem adeptos das causas de um ou de outro sem ter, de fato, taaanto compromisso com a verdade ou com o bem da população.

Mas a guerra começa mesmo assim. Os lados se situam e os ataques começam, sempre tão absolutos na verdade que pregam. Baseiam-se, sim, numa falsa sensação de dicotomia que, se analisada a fundo, revela uma disputa de pares e, por isso mesmo, talvez nem possa ser chamada assim, “disputa”. É isso mesmo. Criticar fervorosamente algum de nossos pretendentes à prefeitura significa, invariavelmente, falar diretamente contra o seu defendido. A acusação apontada para qualquer deles parte de uma visão pouco reflexiva, que não quer enxergar que a distância de projeto de gestão que difere os candidatos é tão ínfima que pode se dizer irrelevante, insignificante.

Luciano e Luiz Paulo agem com os mesmos propósitos e mediante condutas bem parecidas. Arquitetaram para si campanhas impérios, despendendo, para esse fim, altíssimos gastos. Quem os financia? Aqueles mesmos que reivindicarão, logo mais, que seus interesses sejam atendidos. É, os empresários investem pesado na candidatura de um prefeito, e alguém tem que pagar a conta depois né...

Vitória ainda não conheceu uma proposta efetiva de mudança. Até o PT, resistência de outrora, sucumbiu ao poder do empresariado, consagrando aquilo que fora uma das maiores decepções políticas da história do Brasil.

Não nos iludamos: ambos os lados tem financiadores espúrios; ambos os lados teceram relações políticas comprometedoras [a exemplo, Magno Malta e Paulo Hartung, um de cada lado], ambos os candidatos já agiram de maneira antiética nessa eleição, notadamente através de agressões pessoais e, quando tomarem posse do cargo, vão repetir o desrespeito com a Coisa Pública.

Nesse jogo, interessa menos atender à população que à própria carreira. Os que se debruçam sobre o panorama com alguma visão crítica logo se dão conta que nem Luciano nem Luiz Paulo pretendem romper com essa lógica. Vitória será, mais 4 anos, obra de condução do grande empresariado, não importa quem vença. “Farinha do mesmo saco”, seria a expressão mais pertinente.

A verdadeira mudança só vai acontecer quando nós, verdadeiros protagonistas da democracia, pararmos de apoiar cegamente esses que se dizem aptos aos cargos públicos, mas que, realmente, nutrem suas ações com condutas pouco altruístas, nada preocupadas com o bem social. Mais egoístas, contudo, ludibriando a todos com essa fotografia bonita que aparece no horário eleitoral e com as veeelhas promessas que não vão cumprir.

Nenhum dos nossos candidatos merece nosso apoio incondicional. Aquele que vier a tomar posse deve o fazer sem a tranqüilidade e conforto que geram a larga aceitação dos eleitores, mas que seja, o eleito, motivado pela represália que a população pode desembainhar se desagradada ou preterida. Esse é a atuação que, como cidadãos engajados, devemos desempenhar. Desconfiança e exigência! Nada menor que isso, na nossa atual conjuntura, é socialmente construtivo ou politicamente desejado. 

Portanto, amanhã, não vote consciente. Conscientize-se, apenas, para além da perspectiva que a sua opção de voto fornece.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Parágrafo da minha vida – ou carta aos amigos do Direito


Platão falando a Glauco a respeito do homem que vivia preso à Caverna [aquela do Mito] e, após enxergar o Sol que havia fora dela, tem o retorno forçado ao ambiente obscuro de outrora...

“- Mas então? Pensas ser espantoso que um homem, que passa das contemplações divinas às misérias humanas, tenha falta de graça e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e insuficientemente acostumado às trevas circundantes, se vê forçado a entrar em disputa, diante dos tribunais ou alhures, acerca das sombras de justiça ou das imagens que projetam essas sombras, no empenho de combater as interpretações que delas fornecem os que nunca viram a justiça em si mesma?” (A República de Platão, p. 267)

Decerto que, aos olhos do filósofo, o Sol simboliza o destino final daqueles que buscam conhecimento e, por conseguinte, representa, em tempo, todo o bem e a justiça, e todas as virtudes que existem de mais elevadas.

Por esse raciocínio, então, o que verdadeiramente clarifica o significado de termos que, ao primeiro olhar, parecem tão vagos [como bondade e justiça], é a força do conhecimento, porquanto é a única apta a elevar o espírito do homem, conduzindo-lhe a visão para além daquilo que é APARENTE, de sorte que passe a enxergar, por fim, o que é REAL.

Não é de se espantar, portanto, que quando algum jurista se desloca de sua zona de conforto dogmática almejando passos mais largos em busca da verdadeira justiça e, após esse movimento, ao ser reinserido em searas menos esclarecidas, o que ocorrerá, sem dúvidas, no momento em que ele venha a se confrontar com a justiça dos tribunais – em que a arte da retórica é tão mais contemplada, mas embaça a própria virtude pura da justiça -, ele se frustre!
O jurista elucidado, filósofo, sabe que os tribunais resistem à luz, preferem as sombras refletidas nas paredes da Caverna. Nos tribunais, o que é aparente é bastante mais relevante do que o real. E é precisamente por isso que o que ali se discute é mera projeção da realidade e, por isso mesmo, do que é justo, jamais corresponde, todavia, à efetiva justiça em sua semântica mais plena.

Não se trata de arrogância, uma presunção de ser portador da maior das verdades e, por conta disso, insurgir-se contra as práticas institucionalizadas em toda a extensão do corpo jurídico. É que esse filósofo já transcendeu ao plano metafísico e lá viu tanta coisa correta e reluzente que já não pode se contentar com qualquer política que simbolize a escuridão, que promova discursos alienantes, que esteja preocupada com a camuflagem das contradições reais, cuja finalidade sequer apresenta algum compromisso com a elucidação da verdade, mas apenas com a adulação para convencimento do público em defesa de causas que são, no mais das vezes, injustas.

Justificar essa ordem significa, invariavelmente, cometer injustiças. Alimentá-la é um atentado ao saber. Os protagonistas dessa lógica são esses que permanecem estagnados, acorrentados diante das paredes, se deliciando com sombras e afugentados pela força da luz! Temem o desconhecido. Também, pudera, para sair da Caverna e perceber quanto sua percepção da realidade é limitada é necessária muita coragem...

Os que permanecem nessa condição julgam como ridículo aquele que vem de fora da Caverna, com informações tão diferentes, tão inéditas, jamais cogitadas em um cenário atravessado pelas trevas. Riem dele, pretendem conformá-lo novamente à inércia, à resignação. São os homens de terno da Matrix, os Darth Vaders, defensores do sistema. Para nossa fortuna, contudo, essa conformação já não é possível. Agora o herói conhece o Rei Sol e todas as belezas que dele irradiam, tão mais vivas que as sombras que na parede se perfazem, insistindo incansavelmente em ser chamadas de realidade, figurando como algo que, de fato, nunca foram e tampouco serão.

Quebre os grilhões! Liberte-se da fôrma dócil que a escuridão deseja. Pretenda o inusitado, o desconhecido! O mundo precisa menos do rigor do dogma que da ousadia da poesia... Atue, sempre, como indica o mantra do grande mestre Bob Marley, destemidamente: “Bright up the darkness!”.

Ilumine a escuridão, LUTE!