quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Parágrafo da minha vida – ou carta aos amigos do Direito


Platão falando a Glauco a respeito do homem que vivia preso à Caverna [aquela do Mito] e, após enxergar o Sol que havia fora dela, tem o retorno forçado ao ambiente obscuro de outrora...

“- Mas então? Pensas ser espantoso que um homem, que passa das contemplações divinas às misérias humanas, tenha falta de graça e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e insuficientemente acostumado às trevas circundantes, se vê forçado a entrar em disputa, diante dos tribunais ou alhures, acerca das sombras de justiça ou das imagens que projetam essas sombras, no empenho de combater as interpretações que delas fornecem os que nunca viram a justiça em si mesma?” (A República de Platão, p. 267)

Decerto que, aos olhos do filósofo, o Sol simboliza o destino final daqueles que buscam conhecimento e, por conseguinte, representa, em tempo, todo o bem e a justiça, e todas as virtudes que existem de mais elevadas.

Por esse raciocínio, então, o que verdadeiramente clarifica o significado de termos que, ao primeiro olhar, parecem tão vagos [como bondade e justiça], é a força do conhecimento, porquanto é a única apta a elevar o espírito do homem, conduzindo-lhe a visão para além daquilo que é APARENTE, de sorte que passe a enxergar, por fim, o que é REAL.

Não é de se espantar, portanto, que quando algum jurista se desloca de sua zona de conforto dogmática almejando passos mais largos em busca da verdadeira justiça e, após esse movimento, ao ser reinserido em searas menos esclarecidas, o que ocorrerá, sem dúvidas, no momento em que ele venha a se confrontar com a justiça dos tribunais – em que a arte da retórica é tão mais contemplada, mas embaça a própria virtude pura da justiça -, ele se frustre!
O jurista elucidado, filósofo, sabe que os tribunais resistem à luz, preferem as sombras refletidas nas paredes da Caverna. Nos tribunais, o que é aparente é bastante mais relevante do que o real. E é precisamente por isso que o que ali se discute é mera projeção da realidade e, por isso mesmo, do que é justo, jamais corresponde, todavia, à efetiva justiça em sua semântica mais plena.

Não se trata de arrogância, uma presunção de ser portador da maior das verdades e, por conta disso, insurgir-se contra as práticas institucionalizadas em toda a extensão do corpo jurídico. É que esse filósofo já transcendeu ao plano metafísico e lá viu tanta coisa correta e reluzente que já não pode se contentar com qualquer política que simbolize a escuridão, que promova discursos alienantes, que esteja preocupada com a camuflagem das contradições reais, cuja finalidade sequer apresenta algum compromisso com a elucidação da verdade, mas apenas com a adulação para convencimento do público em defesa de causas que são, no mais das vezes, injustas.

Justificar essa ordem significa, invariavelmente, cometer injustiças. Alimentá-la é um atentado ao saber. Os protagonistas dessa lógica são esses que permanecem estagnados, acorrentados diante das paredes, se deliciando com sombras e afugentados pela força da luz! Temem o desconhecido. Também, pudera, para sair da Caverna e perceber quanto sua percepção da realidade é limitada é necessária muita coragem...

Os que permanecem nessa condição julgam como ridículo aquele que vem de fora da Caverna, com informações tão diferentes, tão inéditas, jamais cogitadas em um cenário atravessado pelas trevas. Riem dele, pretendem conformá-lo novamente à inércia, à resignação. São os homens de terno da Matrix, os Darth Vaders, defensores do sistema. Para nossa fortuna, contudo, essa conformação já não é possível. Agora o herói conhece o Rei Sol e todas as belezas que dele irradiam, tão mais vivas que as sombras que na parede se perfazem, insistindo incansavelmente em ser chamadas de realidade, figurando como algo que, de fato, nunca foram e tampouco serão.

Quebre os grilhões! Liberte-se da fôrma dócil que a escuridão deseja. Pretenda o inusitado, o desconhecido! O mundo precisa menos do rigor do dogma que da ousadia da poesia... Atue, sempre, como indica o mantra do grande mestre Bob Marley, destemidamente: “Bright up the darkness!”.

Ilumine a escuridão, LUTE!

4 comentários:

  1. ''Ate aqui o direito so tinha originado duas especies de trabalhos. De um lado, havia os juristas profissionais que se preocupavam exclusivamente em comentar as formulas juridicas, para determinar seu sentido e seu alcance. De outro, havia os filosofos que, atribuindo apenas uma importancia mediocre as leis humanas, manifestacao contingente da lei moral universal, procuravam encontrar, por meio apenas das forcas da intuicao e do raciocinio, os principos eternos do direito e da moral''
    Sempre confunda sua funcao e seu caminho meu amigo, e nunca se esqueca, a realidade e uma criacao da nossa mente.

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  2. Interessante pensar que para esses protagonistas que vivem dentro de suas cavernas, evitando até mesmo a luz do sol, se refugiando na intensa escuridão, não pensam na importância da interação com o quem vem de fora, sendo que este é fundamental até na própria manutenção da vida destes protagonistas. Até mesmo na busca de alimentos, riquezas.

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  3. Bom dia! Seu blog me foi indicado por uma ex-aluna da UVV, Thayná Chamon. Parabéns pelo texto! Aos poucos lerei os outros. Convido-o para que também visite meu blog: http://cronilogicamente.blogspot.com.br/
    Um feliz Natal e um 2015 de boas produções literárias!

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