“- Mas então? Pensas ser espantoso que um homem, que
passa das contemplações divinas às misérias humanas, tenha falta de graça e
pareça inteiramente ridículo, quando, ainda com a vista perturbada e
insuficientemente acostumado às trevas circundantes, se vê forçado a entrar em
disputa, diante dos tribunais ou alhures, acerca das sombras de justiça ou das
imagens que projetam essas sombras, no empenho de combater as interpretações
que delas fornecem os que nunca viram a justiça em si mesma?” (A República de
Platão, p. 267)
Decerto que, aos olhos do filósofo, o Sol simboliza o
destino final daqueles que buscam conhecimento e, por conseguinte, representa,
em tempo, todo o bem e a justiça, e todas as virtudes que existem de mais
elevadas.
Por esse raciocínio, então, o que verdadeiramente
clarifica o significado de termos que, ao primeiro olhar, parecem tão vagos
[como bondade e justiça], é a força do conhecimento, porquanto é a única apta a
elevar o espírito do homem, conduzindo-lhe a visão para além daquilo que é
APARENTE, de sorte que passe a enxergar, por fim, o que é REAL.
Não é de se espantar, portanto, que quando algum jurista
se desloca de sua zona de conforto dogmática almejando passos mais largos em
busca da verdadeira justiça e, após esse movimento, ao ser reinserido em searas
menos esclarecidas, o que ocorrerá, sem dúvidas, no momento em que ele venha a
se confrontar com a justiça dos tribunais – em que a arte da retórica é tão
mais contemplada, mas embaça a própria virtude pura da justiça -, ele se
frustre!
O jurista elucidado, filósofo, sabe que os tribunais
resistem à luz, preferem as sombras refletidas nas paredes da Caverna. Nos
tribunais, o que é aparente é bastante mais relevante do que o real. E é
precisamente por isso que o que ali se discute é mera projeção da realidade e,
por isso mesmo, do que é justo, jamais corresponde, todavia, à efetiva justiça
em sua semântica mais plena.
Não se trata de arrogância, uma presunção de ser portador
da maior das verdades e, por conta disso, insurgir-se contra as práticas
institucionalizadas em toda a extensão do corpo jurídico. É que esse filósofo já
transcendeu ao plano metafísico e lá viu tanta coisa correta e reluzente que já
não pode se contentar com qualquer política que simbolize a escuridão, que
promova discursos alienantes, que esteja preocupada com a camuflagem das
contradições reais, cuja finalidade sequer apresenta algum compromisso com a
elucidação da verdade, mas apenas com a adulação para convencimento do público
em defesa de causas que são, no mais das vezes, injustas.
Justificar essa ordem significa, invariavelmente,
cometer injustiças. Alimentá-la é um atentado ao saber. Os protagonistas dessa
lógica são esses que permanecem estagnados, acorrentados diante das paredes, se
deliciando com sombras e afugentados pela força da luz! Temem o desconhecido.
Também, pudera, para sair da Caverna e perceber quanto sua percepção da
realidade é limitada é necessária muita coragem...
Os que permanecem nessa condição julgam como ridículo
aquele que vem de fora da Caverna, com informações tão diferentes, tão
inéditas, jamais cogitadas em um cenário atravessado pelas trevas. Riem dele,
pretendem conformá-lo novamente à inércia, à resignação. São os homens de terno
da Matrix, os Darth Vaders, defensores do sistema. Para nossa fortuna, contudo,
essa conformação já não é possível. Agora o herói conhece o Rei Sol e todas as
belezas que dele irradiam, tão mais vivas que as sombras que na parede se
perfazem, insistindo incansavelmente em ser chamadas de realidade, figurando
como algo que, de fato, nunca foram e tampouco serão.
Quebre os grilhões! Liberte-se da fôrma dócil que a
escuridão deseja. Pretenda o inusitado, o desconhecido! O mundo precisa menos
do rigor do dogma que da ousadia da poesia... Atue, sempre, como indica o
mantra do grande mestre Bob Marley, destemidamente: “Bright up the darkness!”.
Ilumine a escuridão, LUTE!
''Ate aqui o direito so tinha originado duas especies de trabalhos. De um lado, havia os juristas profissionais que se preocupavam exclusivamente em comentar as formulas juridicas, para determinar seu sentido e seu alcance. De outro, havia os filosofos que, atribuindo apenas uma importancia mediocre as leis humanas, manifestacao contingente da lei moral universal, procuravam encontrar, por meio apenas das forcas da intuicao e do raciocinio, os principos eternos do direito e da moral''
ResponderExcluirSempre confunda sua funcao e seu caminho meu amigo, e nunca se esqueca, a realidade e uma criacao da nossa mente.
Interessante pensar que para esses protagonistas que vivem dentro de suas cavernas, evitando até mesmo a luz do sol, se refugiando na intensa escuridão, não pensam na importância da interação com o quem vem de fora, sendo que este é fundamental até na própria manutenção da vida destes protagonistas. Até mesmo na busca de alimentos, riquezas.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBom dia! Seu blog me foi indicado por uma ex-aluna da UVV, Thayná Chamon. Parabéns pelo texto! Aos poucos lerei os outros. Convido-o para que também visite meu blog: http://cronilogicamente.blogspot.com.br/
ResponderExcluirUm feliz Natal e um 2015 de boas produções literárias!